domingo, 29 de agosto de 2010

O prazer de envelhecer e morrer


A cada dia, manchas senis vão decorando o dorso de minha mão, como estrelas que vão surgindo no início da noite. O sorriso sendo emolduradas por bem desenhadas rugas, alegres e expressivas. Um vinco insiste em descer a cada lado do nariz em direção aos lábios. A pele vai lentamente se descolando dos músculos como se divorciasse de sua elasticidade. O sono piora e mais pareço um vaqueiro que às 4h da manhã já não cabe na cama.

E dia a dia, mês a mês, vou devolvendo a natureza, aquilo que não é meu: células, proteínas, carbonos, nitrogênios, enfim a matéria! Lenta e continuamente me despeço da juventude, do vigor, das ilusões e sonhos impossíveis. Não há mais lugar para arroubos, impulsividades, revoltas juvenis. Pouco a pouco sou dominado pela moderação, pela compreensão profunda do que vai na minha mente, coração e alma. Observo o mundo que me cerca, munido de curiosidade, sabedoria. Pouca coisa me surpreende, quase nada me incomoda, uma serenidade me acalma mesmo diante dos absurdos que abalam o mundo.

Procuro entender a tecnologia como instrumento e facilitação do cotidiano, mas sem dependência, deslumbramento ou dependência. Continuo anotando em papéis e arquivando, algo que não pega "vírus" nem é alvo de "hackers". Continuo sonhando, construindo sonhos e já consigo morar dentro de alguns deles. Ainda batalho, luto, mas me permito o descanso.

A energia da fé e a energia mental continuam firmemente aumentando, na mesma proporção que minha vitalidade e físico vão decrescendo em direção ao fim. Continuarei todos os dias buscando evoluir ate o "dia" que deixar a vida: um acidente fatal, um infarto fulminante, um câncer devastador - nada me aterroriza. Espero a morte, assim como um passageiro aguarda um trem ou um avião. Um dia chegamos, num outro partimos.

"Morrer é tão natural quanto nascer"...
"Nu viestes a esta vida, tão nu quanto viestes sairás dela, e pelo teu trabalho nada que fizestes louvarás em tuas mãos. Isto é vaidade e vento que sopra"... Como nos ensina Eclesiastes. A vida é meramente um estágio, onde presos em quatro dimensões, a consciência mora num corpo material fadado a ser extinto, após inúteis vaidades, raivas, ódios, ciúmes, ressentimentos, invejas, apegos, medos, angústias e em menor proporção, a alegria, o amor, o carinho, fé, confiança, lealdade e humildade.

Morrerei, espero, serenamente! Afinal, nada nem ninguém me prende à vida material.
Amo, sou amado, sei que poucos têm antipatia, raiva, ódios de mim, mas a recíproca não é verdadeira: o perdão mora em meu coração!

Peço perdão aos que possa ter ofendido. Não sou candidato a nada, nunca fui, nunca serei. Apenas busco com minhas palestras, livros, no exercício da medicina, ser um instrumento de inteligência divina e superiores. Busco CRER e SABER! Alio minha FÉ, ao estudo científico.
Creio que há eternidade e reencontro de almas (ou "consciências não-materiais", se quiserem), daqueles que se amaram na vida terrena. E sei que há "inferno" para os que se viciaram, corromperam, traficaram, assassinaram, se apegaram a uma ilusão absoluta que é a vida terrestre e material.

No mais, cada um busque um sentido de viver, envelhecer, morrer, ser eterno!!!

Coluna Eduardo Andrade Aquino para o Jornal Super Notícias (Belo Horizonte-MG) publicada no dia 29/08/2010.

3 comentários:

  1. Meu caro, incrível e belíssimas palavras sobre como essa nossa vida, nesse plano, é apenas um suspiro. Vou salvar seu blog como meus favoritos.

    ResponderExcluir
  2. É, se pudéssemos passar aos que envelhecem com sofrimento um pouco da magia das suas palavras seris muito bom. Mas, como fazer?

    ResponderExcluir